quarta-feira, 1 de abril de 2009

MARIA, SINAL DA OPÇÃO PREFERENCIAL PELOS POBRES

A imagem construída pela comunidade lucana sobre Maria é de fundamental importância para elaboração da imagem de Maria em nossas comunidades hoje. Muito mais do que milagreira, quase deusa, ela deve ser para nós modelo de seguimento de Jesus. É a partir da sua vivência de fé que Deus age tornando-a agraciada.Quero destacar aqui dentre as caracteristicas por ele apresentadas sobre Maria a de considerá-la como sinal da opção preferencial de Deus pelos pobres. Maria é pobre, é como as "muitas Marias” (como nos diz João Cabral de Melo Neto), “mãe de muitos Severinos”. E é a partir dessa mulher pobre que Deus decide se manifestar na história. O canto do Magnificat é a expressão ápice dessa opção, pois nos diz que Deus “derrubou os poderosos de seus tronos e elevou os humildes”. Assim, hoje nestas “muitas Marias”, nos muitos “meninos Jesus” que nascem sem ter onde morar, o que comer ou o que vestir trazendo até nós hoje vários presépios armados embaixo de viadutos, em barracos de favelas, etc, Deus continua agindo, resta-nos assumir em nós esta opção para que não falte a esperança a eles e possam também perceber a opção de Deus. Só assim seremos verdadeiros discípulos e missionários como foi Maria

terça-feira, 31 de março de 2009

COMPREENDER O DOGMA DA MATERNIDADE DIVINA DE MARIA


Há atualmente diversas correntes na Igreja que exigem de nós reflexões mais amplas dos dogmas marianos, em particular aqui o da maternidade de Deus. Isso se justifica pelas idéias muitas vezes distorcidas que são elaboradas em algumas delas a partir desse dogma. É necessário deixar claro que ele se refere, tem como fundamento e se justificativa na pessoa de Jesus. É conseqüência indispensável para se afirmar a unidade da pessoa do Filho com o Pai. Daí se afirma que Maria é “mãe do Deus-Filho”. Naturalmente afirmar a divindade da pessoa de Jesus, exige afirmar que Maria é “Teotokos”. Entendido isso de maneira clara evita-se compreensões errôneas sobre Maria, que em muitos casos, chega a ser considerada como uma espécie de divindade, com atributos semelhantes aos de Deus. Temos isso bem visível em muitos movimentos ou grupos católicos que difundem devoções marianas sem qualquer fundamento bíblico ou teológico, partindo equivocadamente desse dogma, como se ele fizesse dela uma pessoa divina. Reconhecer Maria como mediadora de graças, intercessora, etc, só terá sentido se o fizermos a partir de Jesus Cristo e reconhecendo que nela há a ação gratuita do Deus que quis revelar-se a si mesmo fazendo-se homem como nós, “nascido de uma mulher”. Portanto, a graça está aí e Maria é a agraciada por excelência, pois deu o seu sim ao projeto de Deus e sujeitou-se à ação do Espírito Santo sendo “mãe, educadora e discípula” do Filho de Deus.

quinta-feira, 19 de março de 2009

ORAÇÃO PELAS VOCAÇÕES

Elaborada pelos seminaristas da Diocese de Almenara

Jesus Cristo Bom Pastor, desperta em nós sensibilidade para ouvir e sabedoria para responder ao seu chamado. Que nosso sim possa traduzir-se em serviço às nossas comunidades que se reúnem em torno da Palavra e da Eucaristia, transformando-as em lugares de diálogo, partilha e justiça.
Envia seu Santo Espírito sobre esta Igreja em missão popular. Que ele desperte nosso povo para o serviço missionário como leigos e leigas, na vida consagrada ou no ministério presbiteral, renovando o ardor missionário recebido no batismo.
Deus Pai e Mãe, que inspirados na vocação de João Batista e de Maria, sejamos anunciadores do seu Reino, trabalhando para que todos tenham vida e a tenham em abundância!
Amém!

A JUSTIÇA NA CONCEPÇÃO RELIGIOSA

Na Bíblia, justiça é apresentada com vários significados. No Antigo Testamento pode designar preposições legais do Pentateuco como sinal da fidelidade à aliança de Deus, ou ainda como costumes morais. Pode ser entendida ainda como a ordem justa da sociedade, cuja prática é uma obrigação moral. A justiça obriga a preocupar-se com os pequeninos, os pobres, as viúvas e os órfãos.
No Novo Testamento, é a justiça divina que serve de fundamento para julgar todas as concepções humanas de justiça. Nos sinóticos, está na base das relações humanas apresentadas no Sermão da Montanha, segundo o princípio “sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito”. Para a teologia paulina, o homem não pode atingir a justiça por seus próprios esforços, mesmo por obediência a lei. A justificação vem pela fé em Cristo através da graça de Deus.
Para Santo Agostinho, não pode haver justiça se não se reconhece o verdadeiro Deus e se toda a vida não se ordena em função dele. Não há uma verdadeira idéia de justiça fora da revelação de Deus em Cristo. O Cristão deve inserir-se nas sociedades terrestres, reconhecendo que elas podem atingir uma espécie de justiça, porém, deve reconhecer também seu caráter imperfeito e transitório.
Tomás de Aquino, contrário a Agostinho, pensa que pode haver uma justiça mesmo entre os não-cristãos. Para ele, a justiça é a virtude específica da vontade. Distingue justiça cumutativa de justiça distributiva. Sendo esta última constituída pelas regras segundo as quais a sociedade distribui as recompensas e castigos e impõe obrigações a seus membros. A primeira, por sua vez, refere-se às regras que governam as relações entre os indivíduos. Por exemplo, a proibição do homicídio.
Também Tomás, assim como Aristóteles, faz relação entre justiça e equidade. Segundo ele, não há nenhuma regra moral que possa ser aplicada com toda certeza em todas as situações possíveis.
Bernhard Haering, em sua obra Livres e fieis em Cristo diz que Deus revela sua justiça revelando o seu amor. A Justiça de Yahweh é quase um sinônimo de sua salvação. É a manifestação de sua salvação, de sua bondade e de sua misericórdia.
Diante desta justiça, resta-nos o compromisso de agir sempre usando a mesma justiça e misericórdia. Aceitar o Reino de Deus significa aceitar a justiça salvífica de Deus. O cristão deve reconhecer que a justiça de Deus deve ser concreta entre os homens, o que inclui, sobretudo, o amor aos irmãos, amor que não pode ser imposto por conceitos da justiça humana. A vida segundo a justiça de Deus reflete-se de maneira particular na justiça social.
No discurso da Igreja a respeito da justiça, sobretudo na América Latina, quase sempre é mencionada a questão da justiça social. Esta pertence aos conteúdos essenciais do Evangelho. O homem que de fato o recebe, quer vivê-la. Para os valores evangélicos, o amor não pode ser anunciado sem promover a paz e a justiça.
Todo esforço que se fizer para realizá-la na sociedade humana inclui-se na libertação integral de Cristo que aperfeiçoa e supera o trabalho humano dando-lhe sentido integral e absoluto.[1]
Maior ênfase teve este tema na Teologia da Libertação, que afirma o amor de Deus pelos excluídos da sociedade e deseja a sua libertação. A partir deste princípio, elaborou-se um rico discurso de incentivo aos movimentos que trabalham para o desenvolvimento de uma sociedade com mais justiça.
Concluo esta reflexão citando o Catecismo da Igreja Católica, no qual encontramos o conceito de justiça como “a virtude moral que consiste na vontade constante e firme de dar a Deus e ao próximo o que lhes é devido(...), dispõe a respeito de cada um e a estabelecer nas relações humanas a harmonia que promove a equidade em prol das pessoas e do bem comum”.[2] Ou ainda, “o respeito a dignidade humana exige a prática(...) da virtude da justiça para preservar os direitos do próximo e lhe dar o que lhe é devido(...)”.[3]
1. Cf. HAERING, Bernhard. Livres e fieis em Cristo: teologia moral para sacerdotes e leigos. Vol II. São Paulo: Paulinas, 1979, p. 451-453
2. Catecismo da Igreja Católica n.1807
3. idem n. 2407